domingo, 11 de novembro de 2012

Entenda a classificação funcional de um atleta para o paradesporto


Entenda a classificação funcional de um atleta para o paradesporto

Clodoaldo Silva se deita na borda da piscina e molha o rosto antes de cair na água
Clodoaldo Silva da categoria já na sua nova categoria S5. Foto Buda Mendes Cpb
Antes de competir, esportistas são classificados de acordo com sua limitação
Ana Cláudia Felizola – Correio Braziliense
Publicação:29/08/2012 19:31
Praticar esporte de alto rendimento é apenas uma das muitas exigências para que um atleta chegue à disputa de uma Paralimpíada. As provas necessárias, na realidade, vão bem além das pistas, quadras e piscinas dos torneios. Têm início ainda nos bastidores, durante a classificação funcional.

Antes de ser credenciado a disputar um campeonato, o candidato é avaliado de acordo com seu comprometimento físico e os critérios inerentes a cada modalidade. De modo geral, os competidores são divididos em categorias segundo as limitações físico-motoras, a deficiência visual ou intelectual. “Normalmente, quando eles começam no esporte, eles passam pela classificação do Brasil para disputarem em nível regional ou nacional. Mas quando são convocados para um campeonato internacional, eles têm obrigatoriamente de passar por uma banca internacional”, explica Patrícia Silvestre de Freitas, chefe de classificação funcional do Brasil.
 A definição da categoria em que cada um será encaixado passa por três estágios. Primeiro, são avaliadas cientificamente a coordenação e o equilíbrio com base nos resíduos musculares
Depois, o atleta precisa demonstrar sua habilidade motora no esporte, para a análise biomecânica do movimento. 
Mas até esse ponto, existe o risco de que alguém tente maquiar sua capacidade para conseguir ser inserido em uma categoria mais fraca e, assim, ter mais chances de medalha.
 Por isso, a classificação só é definida após uma primeira competição, em que é analisado o comportamento do atleta dentro da prova e do estresse do momento.
 Diante de tantas exigências, o profissional responsável pela classificação não costuma ser visto com bons olhos. “Há muitos anos, foi vendida no mundo inteiro a ideia de que o classificador era alguém que daria o tudo ou o nada. Os mais antigos até faziam disso um status de poder”, comenta Patrícia, que tenta reverter o estereótipo. “Hoje, informamos os atletas e os técnicos, mostrando que se trata de uma regra do esporte e que visa dar condições de competitividade a todos. Acho que estamos ‘melhor na foto’, mas ainda não somos bem vistos”, brinca.
 A repulsa a esses profissionais pode ser justificada – caso ele descubra uma tentativa de enganação por parte do atleta, poderá até mesmo decidir por expulsá-lo do esporte. “Observamos o comportamento deles até no refeitório. Às vezes, eles demonstram uma força que não têm quando estão fora do estresse da competição. Se percebermos que estão mentindo, podemos não classificá-lo, aplicar uma sanção de um a dois anos ou até baní-lo”, destaca Patrícia.
 Categoria de um atleta não é definitiva
 Até mesmo após uma classificação internacional, o atleta pode não ter sua categoria determinada em definitivo, ficando com o status aberto a novas mudanças – a não ser em casos de amputações, em que não costuma ser necessária uma revisão. “Cada vez mais, estão diminuindo os pedidos de reclassificação nas Paralimpíadas porque os atletas passam por, ao menos, duas competições internacionais antes de chegarem aqui”, ressalta Patrícia Silvestre.

Contudo, após os Jogos de Pequim, em 2008, o nadador Clodoaldo Silva, por exemplo, foi obrigado a deixar a classe S4 e migrar para a S5, destinada a quem tem menores limitações físico-motoras. “Pensei em abandonar o esporte, mas minha família e meus amigos me deram muita força”, recorda o brasileiro. Hoje, ele compete na mesma categoria de Daniel Dias, apesar de as limitações dos dois serem bastante distintas. “As patologias podem ser diferentes, mas devem dar condições de competitividade”, frisa a classificadora.
 Mudanças de última hora
 Nesta quarta-feira, o brasileiro Magno Marques, do judô, passou pela classificação internacional e foi considerado inelegível. Ele já havia disputado o Parapan-Americano do Rio de Janeiro, em 2007, e de Guadalajara, em 2011, na classe B3, em que os lutadores conseguem definir imagens, mas seu status ainda não havia sido fechado. Exames apontaram que seu resíduo visual não era suficiente para a categoria. A missão brasileira deverá entrar com uma apelação após os Jogos. Já a nadadora Susana Schnarndorf desceu da classe S8 para a S7, tendo, assim, mais chances de medalha. Foram avaliados 20 atletas brasileiros.


Entenda a classificação
 Em cada modalidade, há siglas específicas das categorias de competição. Quando elas são seguidas por um número (como S1, S2 ou S3, na natação), isso indica a limitação do atleta. De maneira geral, quanto maior é a deficiência, menor é esse número. Já nos esportes em grupo, são somadas as classificações dos integrantes da equipe. No basquete, por exemplo, esse resultado não pode ultrapassar 14. Já no futebol de 7, destinado a atletas com paralisia cerebral ou que sofreram traumatismo crânio-encefálico ou acidentes vasculares cerebrais, o time deve ter, no máximo, dois atletas com menos comprometimento e, no mínimo, um mais comprometido.

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