domingo, 9 de maio de 2010

O Papel da Universidade Frente às Políticas Públicas para Educação Inclusiva - Parte 1


Querido leitor do blog Deficiente Ciente,
Devido a relevância do assunto sobre educação inclusiva, durante as próximas semanas estudaremos o artigo "O Papel da Universidade Frente às Políticas Públicas para Educação Inclusiva" da professora Rosana Glat* e da mestranda Márcia Denise Plettsch.**

Já estudamos nesse blog vários assuntos relacionados a educação e a pessoa com deficiência. Entre um dos assuntos abordados foi o papel desempenhado pelo professor, diretor e governo na efetivação da política inclusiva.
E quanto as universidades? Afinal qual é papel da universidade na efetivação da política de inclusão de alunos com deficiência no sistema regular de ensino?
Hoje iniciaremos com a primeira parte do artigo.

"A escola inclusiva é uma nova escola, uma escola que ainda precisa ser criada. Nesse sentido, a universidade, a partir de suas três dimensões constitutivas -- ensino, pesquisa e extensão -- tem uma grande contribuição no desenvolvimento e implementação deste processo. A universidade pode(e deve) atuar na formação e capacitação de professores e demais agentes educacionais, bem como na produção de conhecimento por meio de pesquisas e projetos que validem e disseminem ações educativas bem sucedidas que atendam a esta nova proposta

"A vocação primária da universidade é o ensino: a formação de recursos humanos, e no caso das faculdades ou departamentos de Educação a formação de professores. Este é, sem dúvida, o aspecto determinante para a efetivação de uma política de inclusão educacional. Inúmeros estudos têm demonstrado que a principal barreira para sua efetivação é o despreparo dos professores para lidar com alunos com significativos déficits cognitivos, psicomotores e/ou sensoriais na complexidade cotidiana de uma classe regular (Bueno, 1999; Glat, 1995; 2000; Glat et al, 2003; Glat& Nogueira, 2002; Gofredo, 1992; entre outros).

Como bem lembra Bueno (1999), esta problemática afeta tanto os professores regulares, quanto aqueles do ensino especial. No primeiro caso, verifica-se que osprofessores regulares não têm experiência com esse tipo de alunado, e mal dão conta, em suas classes lotadas, de um número grande de alunos que, embora não tenham deficiências específicas, apresentam inúmeras dificuldades de aprendizagem e/ou de comportamento. Os professores especializados, por sua vez, vêm construindo sua competência com base no conhecimento das dificuldades específicas do alunado que atendem, dando ênfase à diminuição ou compensação dos efeitos de suas deficiências.Acrescente-se a isso o fato de que esses docentes trabalham em situações, quase que individualizadas de pequenas classes especiais com sua dinâmica e racionalidade própria, as quais, em grande parte dos casos, são estruturadas sem um planejamento acadêmico e sistema de avaliação consistente. Vale lembrar, também, que, mesmo quando inseridas em escolas regulares, as classes especiais, via de regra, não estão integradas ao projeto político-pedagógico da escola, e os próprios professores são considerados a parte do sistema (Muller e Glat, 1999).

De acordo com a LDB, a formação inicial dos professores deverá se tornar exclusiva responsabilidade das universidades ou institutos superiores de educação.Convém lembrar que o Ministério da Educação já vem há muito apontando sobre anecessidade de incorporar conteúdos sobre necessidades educativas especiais em todosos cursos de graduação, principalmente na área da formação de professores(Recomendação 1.793 do MEC de 28.12.94). No entanto, ainda são raros os cursos de licenciatura, e mesmo de Pedagogia, que oferecem habilitação ou disciplinas voltadas às especificidades de alunos com necessidades educativas especiais. E mesmo estes, em sua maioria, seguem um modelo tradicional de formação “especializado” e segregado,com orientação clínica, tal como adotado na Educação Especial dos anos 70, com pouca ênfase sendo dada, mesmo em cursos com reformulações curriculares recentes,para a questão da educação inclusiva como fenômeno complexo e atual (Glat et al,2003, p.61).

Essa é uma questão bastante preocupante porque o processo de inclusão escolar (de maneira mais ou menos articulada, dependendo da rede) está sendo implementado no país, a composição do alunado das escolas se tornando cada vez mais diversificada, e o currículo dos cursos de formação de professores não contempla essa nova realidade. Em conseqüência, os futuros docentes continuarão despreparados para atuar sob novo paradigma da escola aberta à diversidade, resultando em prejuízo social e acadêmico aos alunos incluídos e aos demais agentes participantes."

*Professora Adjunta da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro,Coordenadora do Núcleo de Educação Inclusiva (NEI), Membro do Conselho Municipal de Educação doRio de Janeiro.
** Mestranda do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Artigo publicado na Revista Benjamim Constant, ano 10, nº 29, p. 3-8, 2004

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